A OBRA DE ZANOTTA

PEÇAS
DE TEATRO

A DIVINA PROPORÇÃO
A FELICIDADE NÃO ESPERNEIA PATATI-PATATÁ (1978)

Os dois textos breves estrearam à meia noite do dia 31 de março de 1978, data em que a ditadura militar comemorava seu aniversário. Houve tumulto na plateia, provocado por agentes dos órgãos de repressão infiltrados entre o público. O grupo pretendia buscar “um acontecimento teatral que negue a desumanização do indivíduo e denuncie a descaracterização consumista”.

A LIBERTAÇÃO DO DIRETOR PRESIDENTE (1979)

O texto equilibra elementos de manifesto e depoimentos, com uma crítica iconoclasta de tons sombrios. Favelados e moradores de rua entremeiam informações e comentários cáusticos sobre a situação político-econômica do momento, para estabelecer relações entre os privilégios dos ricos e o desamparo dos oprimidos. A última cena é formada por cem palavras, a última a ser pronunciada é “ódio”. Resume, com violência verbal, um sentimento coletivo de inconformidade.

AS CINZAS DO GENERAL (1980)

Desde o início “As Cinzas do General” encontrou dificuldades. Os escritórios da Censura Federal, em Porto Alegre, diante de relatórios contraditórios de seus representantes quanto à liberação ou não do texto, enviaram-no para o Conselho Superior de Censura em Brasília. O texto ficou retido por mais de três meses e só foi liberado com cortes. Com isto, o texto original perdeu-se. A editora Mercado Aberto (Teatro Lixo, 1996) publicou uma versão do texto restaurada pelo autor.

MARÍLIA (1982)

Marília é uma história de afirmação e busca da liberdade. Relata a trajetória de uma garota e suas inquietações, sua recusa a convenções e padrões. A montagem foi coreografada por Lisaura Andrea Souto, apoiando-se nas técnicas de dança moderna. A plasticidade conduzia a mensagem e provocava os sentidos, uma denúncia em 10 cenas contra a violência de que são vítimas as mulheres.

NIETZCHE NO PARAGUAY (1986)

A irmã de Nietzsche, Elizabeth Forster Nietzche, fundou no Paraguai uma comunidade utópica, financiada por Richard Wagner. A comunidade fracassou, mas os alemães, que se assentaram no inóspito Chaco paraguaio, deixaram um legado. Foram eles que inventaram a industrialização da erva-mate. Na peça, Nietzsche é recebido como uma celebridade. Envolve-se num golpe de estado e descobre que sua irmã Elizabeth agora se chama Mercedez e está casada com um ditador exilado.

PROEZAS E VIRTUDES DO PRUDENTE PRESIDENTE
QUE POR UM OLHO CHORAVA LEITE E PELO OUTRO AZEITE (1988)

O português arcaico com restos de latim e fusões sonoras com o alemão transformava-se em cena numa comédia milagueta, um escracho total ao poder velhaco de um país de terceiro mundo. A incoerência mistura uma máquina chamada Tuturômetroa eletricistas da Casa Branca, sultões do Piauí, despachos para santos e sonetos com a métrica alexandrina.

BAUDELAIRE (2002)

A peça apresenta a crônica da vida do primeiro poeta moderno e sua luta para encontrar a consciência radiante de si mesmo. O argumento gira em torno do encontro entre Baudelaire, na hora de sua morte, com misterioso Mefisto. O que faz ali este representante do seu lado obscuro? Veio buscar a alma do poeta? Veio cobrar um pacto? Ao assumir no seu sonho as experiências da vida e as aparências do mundo, Baudelaire dá às suas evocações um caráter original, sublime e satânico. 

LOUCO – A LENDA NEGRA DE SAXON FROBENIUS (2004)

Depois de esquartejar a sua mulher, Frobenius foi salvo da cadeira elétrica pela intervenção dos militares que dirigiram o Projeto Manhattan, que construiu a primeira bomba atômica. Considerado psicopata, Frobenius passou o resto da vida em um manicômio judiciário. É numa cela do manicômio que ele vivência os terríveis acontecimentos passados, em contraponto com as intervenções da banda Sonix.

MILKSHAKSPEARE (2010)

Sir William Stanley é o verdadeiro autor das obras de Shakespeare. Na companhia de seu criado, James Byron, sai da tumba disposto a encontrar o vil cavalariço para uma certo de contas. Atravessam um pântano sombrio, penetram nas ruínas do sinistro castelo de Elsinore e encontram dois personagens hamletianos, Rosenkrants e Guildenstern, nobres decadentes que vivem nas ruínas. Um túmulo se abre e dele sai o espectro de Lady Macbeth, convertida numa piedosa senhora. 

UMA FADA NO FREEZER (2011)

Uma fada tradicional é expulsa da Europa pelas fadas de Walt Disney e exilada na Antártica, onde sobrevive alimentando-se de sopa de pinguim. A fada é trazida para uma clínica psiquiátrica dentro de uma bola de sorvete e trancada em um freezer. Uma vez por ano, no dia do seu aniversário, os enfermeiros permitem que ela saia. Num destes dias ela conta sua história. Suas confissões, aparentemente inocentes, são metáforas de um quotidiano que não lhe deixa poder de escolha.

O APOCALIPSE SEGUNDO SANTO ERNESTO DE LA HIGUERA (2012)

Depois de morto o Che é chamado por Deus, que lhe comunica que ele será o novo santo, agora com o nome de Santo Ernesto de La Higuera, povoado boliviano onde foi assassinado. Deus lhe dá para ler o “Apocalipse”, de São João, e Guevara, em troca, lhe oferece o seu “Manual de Guerrilha”. Entre as cordilheiras o Che enfrenta os 7 Dragões do Mal, Mussolini, Stalin, Pinochet, Idi Amin, Pol Pot, Sadan Hussein e Bin Laden.

A VOZ DAS RUAS (2013)

Na República do Kamba, tudo é possível, menos a honestidade. Os personagens são animais do Jogo do Bicho e têm características zoomorfas. Plumagem, garras, bicos, dentes caninos, asas, cauda, focinho. Elementos de composição como máscaras, apliques e maquiagem reforçam estas criações híbridas, que se mostram ora grotescas, ora satíricas.

A GUERRA CIVIL DE GUMERCINDO SARAIVA (2015)

A peça aborda a epopeia do caudilho Gumercindo Saraiva na guerra civil mais violenta da história do Brasil, conhecida como Revolução da Degola ou Revolução Federalista de 1893, sangrento e bárbaro conflito que mergulhou no caos o sul do Brasil. Gumercindo Saraiva foi o principal chefe militar da revolução. Vindas do Uruguai, suas tropas invadiram o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Avançaram sobre o Paraná, tomaram Curitiba e puseram em cheque o governo de Floriano Peixoto.

LUA DE MEL EM BUENOS AIRES,
A MULHER CRUCIFICADA, O BEIJO DA BESTA (2016)

Reuniu solilóquios, monólogos e diálogos que rompem inesperadamente os clichês do pornô machista, mexendo com a noção de erotismo e sensualidade. O Levanta Favela recriou as vontades sexuais, propôs a reinvenção ou subversão do conceito de sexo levando-o ao grotesco para externar com violência cênica a asquerosidade de nossos padrões de beleza dominantes.

ULISSES NO PAÍS DAS MARAVILHAS (2016)

Nero, um velho maluco, entra no apartamento de um ex-professor de literatura viciado em drogas, que diz chamar se Ulisses. O suposto Ulisses vendeu tudo o que tinha para sustentar o vício. Sobrou a máquina de escrever, na qual datilografa seus textos. Os dois viajam através da noite, num delírio comum. Ulisses tenta escrever a história de Ana Lúcia, aluna sua que se tornou viciada e traficante.

UM DIA SODOMA, NO OUTRO GOMORRA (2019)

Dois libertinos, interpretados por Pablo Parra e Isa Meza Tzin, vivem sua sensualidade escandalosa presos numa jaula. Vargas, um libidinoso vulgar, é um carrasco ambíguo com um passado comprometedor. Atua sem intermediários no controle de todas as perversidades. Gilda, uma devassa deprimida, busca encontrar sua dignidade perdida. Tenta sair de uma condição já suficientemente gradeada pela paixão licenciosa.

OBRAS
DE FICÇÃO

LOUCO (1995)

Sofisticada peça de arte gráfica, Louco é o primeiro trabalho editado pela Ao Pé da Letra, a livraria de Zanotta (…). “Sempre gostei de livros com formato diferenciado”, diz Zanotta. Capa em formato 25cm X 30cm, encadernado com uma corda sintética vermelha, planejamento gráfico (assinado por Marco Cena) arrojado, agressivo, contrastando o preto e o vermelho na capa e nas páginas de abertura: Louco é certamente um livro diferenciado.

TEATRO LIXO (1996)

No volume, cujo projeto gráfico arrojado acompanha a dinâmica fragmentária dos textos, encontramos as 4 peças que Zanotta escreveu entre 1977 e 1979 na íntegra (“A Divina Proporção”, “A Felicidade Não Esperneia, Patati-Patatá”, “A Libertação do Diretor-Presidente” e “As Cinzas do General”, peça cuja encenação foi interrompida violentamente pelos órgãos de repressão e o autor foi forçado a deixar o país.)

E NAS COXILHAS NÃO VAI NADA? (1997)

E Nas Coxilhas Não Vai Nada? é uma novelinha que nasce, cresce e vive da farsa. Reino do riso solto e do desejo mais desavergonhado. O testamento o vô Tibúrcio chegou pelo correio num pacote feito em couro de tamanduá atado com barbante de linho. Conforme estava escrito, Atalíbio e Felisbina haviam herdado a estância do falecido. Os dois se pilcham e partem para a querência para tomar posse da herança.

O APOCALIPSE SEGUNDO SANTO ERNESTO DE LA HIGUERA (2012)

A fantasia de Julio Zanotta transforma a guerrilha do Che num apocalipse latino-americano. Deus ameaça os pobres mortais, Guevara tenta uma revolução impossível. Sete anjos da mídia cantam o grande dilema político de um continente inteiro. Sete dragões do mal lutam contra o destino revolucionário. E o Dragão do Apocalipse ameaça arrasar a terra. Che Guevara canta e marcha pelos vales e montanhas da Bolívia.

A NINFA DRAGÃO (2014)

Novela de ficção distópica e alegórica, A Ninfa Dragão transita por territórios marginais da escrita, distantes dos cânones, das academias e das bulas literárias. O autor usa palavras extraídas de outras ciências, vocábulos da física, da matemática avançada, da astronomia, da genética. Eliminou sinais gramaticais, pontos ou vírgulas, construindo a narrativa a partir de blocos de palavras extravagantes. Zanotta deixou-se levar pela sonoridade, alcançado um significado metacientífico.

PISA LEVE (2021)

Em Pisa leve, Julio Zanotta apresenta o relato do Dr. Beiramar, filho de bandido e especialista em alta tecnologia cirúrgica, em sua estadia na cidade de Porto Alegre, que vai sendo decomposta por um apocalipse de fetidez e pela visão do protagonista, que expõe lugares, comportamentos e situações com uma linguagem em primeira pessoa, como se estivesse alheio aos acontecimentos que estão levando a cidade ao colapso. Uma novela literária irreverente, escrita num estilo livre e espontâneo.

O CARALHO VOADOR (2021)

Através de uma linguagem transgressora de um relato marcado pelos elementos do sexo, do fantástico e da ironia, a obra narrada por Julio Zanotta descreve a vinda do Caralho Voador, um super herói sexual, que veio dos confins do universo para perturbar as mulheres da Terra em vivências singulares.

HISTÓRIA
EM QUADRINHOS

AS CINZAS DO GENERAL (1980)

A publicação que era vendida pelo elenco nas horas livres com o objetivo de proporcionar uma receita maior para o grupo, e também para o Teatro 1, uma das poucas casas de espetáculo que não conta com verbas públicas para sua manutenção – foi apreendida terça-feira na gráfica CEUE, pouco depois das dependências doTeatro Um terem sido vasculhadas por agentes da Polícia Federal, que se apropriaram de programase ingressos do espetáculo atualmente em cartaz.

TEATRO
PUBLICADO

MILKSHAKESPEARE - Vol. 1 (2022)

Sir William Stanley é o verdadeiro autor das obras de Shakespeare. Como nobre, não podia rebaixar-se e assinar a autoria de peças de teatro. Contratou um empregado da sua cocheira, filho de um açougueiro, recém-chegado a Londres, para assinar as peças.
A obra é vencedora do Prêmio Funarte de Dramaturgia e do Prêmio Açorianos.

O APOCALIPSE SEGUNDO SANTO ERNESTO DE LA HIGUERA - Vol. 2 (2022)

O Apocalipse segundo Santo Ernesto de La Higuera é uma obra que mescla a narrativa bíblica do apocalipse com os últimos momentos da vida de Che Guevara. O texto traz, em sua estrutura, uma mistura de elementos políticos e místicos. Os santos guerreiros são personalidades históricas e os dragões do mal governantes autoritários. Reconstroem a morte e a ressureição do líder socialista.

BAUDELAIRE | NIETZSCHE NO PARAGUAY - Vol. 3 (2022)

Em Baudelaire, a dramaturgia apresenta a crônica da vida do primeiro poeta moderno e sua luta para encontrar a consciência radiante de si mesmo. O argumento gira em torno do encontro entre Baudelaire, na hora de sua morte, com o misterioso Mefisto.

Já em Nietzsche no Paraguay, o texto dramatúrgico se desenvolve em tom de farsa, baseado em fato real. Nietzsche recebe alta no Hospício de Yena e parte, supostamente, em busca do grande amor de sua vida, a irmã Elisabeth, que vive no Paraguay.

ULISSES NO PAÍS DAS MARAVILHAS | LUIZA FELPUDA | QUE GRAÇA TEM ESFAQUEAR O TRAVESSEIRO? - Vol. 4 (2022)

Ulisses no país das maravilhas é o drama de Maria Clara, uma garota sensitiva, e de Ulisses, escritor de meia-idade fracassado, envolvido em suas dores e nostalgias.

Luiza Felpuda, dramaturgia inspirada no assassino cruel de Luiza Felpuda – homossexual e empresário, nos anos 70 em Porto Alegre -, recria os últimos momentos de sua vida, apresentando as situações políticas e privadas relacionadas ao crime.

Que graça tem esfaquear o travesseiro? narra a trajetória de Wellington, um adolescente tímido e sensível, que vai se moldando, a partir da indiferença e das opressões que sofre das pessoas ao seu redor.

A NINFA DRAGÃO | SONHO DE VALSA - Vol. 5 (2022)

A Ninfa Dragão conta a história da criatura homônima – homem e mulher no mesmo corpo – criada pelo dr. Kirihara, bem como os acontecimentos anteriores ao seu surgimento, remontando a tempos imemoriais da história do universo, quando surgiu Norton, um viajante cósmico sujeitado a uma série de experiências no Instituto Jacutinga, onde onde trabalha o doutor.

Já Sonho de Valsa, baseado em uma série de mensagens reais trocadas entre o autor e uma mulher anônima no Facebook, é um texto sobre experiências amorosas levadas ao extremo que desafiam padrões impostos pela sociedade, como monogamia, a visão dos outros – e a própria – sobre o “romance clandestino”.

A ESCOLA DE ESCRITORES | LOUCO - Vol. 6 (2022)

Em um texto marcado pela sátira e pelo absurdo, A Escola de Escritores narra o trabalho desenvolvido pela professora Rosilete com sua turma de alunos, durante o ano letivo. Na busca de um objetivo – transformar os discentes em escritores -, as aulas têm uma metodologia singular, que mescla a inspiração no clássicos e as inusitadas atitudes dos envolvidos no processo educacional da Escola.

Já em Louco, Julio Zanotta apresenta Gildo e Varga, internos do Manicômio Judiciário que trazem à tona suas memórias. Entre lembranças da infância, da entrada no sanatório, das situações nele vividas e deum assassinato seguido de um esquartejamento, os personagens expõem episódios de sua vida, de si mesmos e de sua condição mental, a loucura, que é simultaneamente, horror e fascínio.

O HOMEM JAGUAR PÁSSARO SERPENTE | LUA DE MEL EM BUENOS AIRES | A MULHER CRUCIFICADA | O BEIJO DA BESTA - Vol. 7 (2022)

O Homem Jaguar Pássaro Serpente é o relato de um deus retorna ao Peru e testemunha como está seu povo, séculos após a colonização. 

Lua De Mel Em Buenos Aires, relata as mais cruéis fantasias sexuais de Maurílio e Clarissa em sua lua e mel no Hotel Artigas Plaza.

A Mulher Crucificada é a história de Aurora Gerthrudt e Gazella que, em meio à Revolução Federalista, experienciam os horrores da guerra civil e uma experiência mística e sexual que marca uma nova teologia.

O Beijo Da Besta é sobre quando o Círculo de Adoradores, antiga organização praticante do Beijo da Besta, reinicia suas atividades e escolhem Anna, uma travesti, para restaurar o poder da ação centenária do Beijo.

PARA ATORES LICENCIOSOS E DIRETORES LIBERTINOS 1 - Vol. 8 (2022)

Para Atores Licenciosos e Diretores Libertinos 1 é uma coletânea de dramaturgias curtas do autor Julio Zanotta. Os dez textos presentes no livro versam sobre relacionamentos e a sociedade por meio da crítica, do sexo e do absurdo.

PARA ATORES LICENCIOSOS E DIRETORES LIBERTINOS 2 - Vol. 9 (2022)

Para Atores Licenciosos e Diretores Libertinos 2 traz dez textos breves de Julio Zanotta. Reunindo personagens autênticas, que tomam as rédeas de suas vidas e das situações em que se encontram, a coletânea é uma obra que questiona e denuncia diferentes esferas da sociedade.

TEATRO CRUEL - Vol. 10 (2022)

O volume 10 da obra dramatúrgica de Julio Zanotta, intitulada de Teatro Cruel, reúne dez textos – perturbadores – do autor, os quais vão desde a crítica à sociedade e à literatura até narrativas sobre práticas sexuais. O tom subversivo, irônico e impactante marca a coletânea, reveladora de um lado chocante do ser humano.

Classificação 18 anos.