Peças Encenadas

As Cinzas do General

AS CINZAS DO GENERAL

Em 1980 a abertura política era ainda incipiente e todos os organismos da censura se mantinham atuantes. Desde o início “As Cinzas do General” encontrou dificuldades. Os escritórios da Censura Federal, em Porto Alegre, diante de relatórios contraditórios de seus representantes quanto à liberação ou não do texto, enviaram-no para o Conselho Superior de Censura em Brasília.

O texto ficou retido por mais de três meses e só foi liberado com cortes. Com isto, o texto original perdeu-se. A editora Mercado Aberto (Teatro Lixo, 1996) publicou uma versão do texto restaurada pelo autor.

A estreia de “As Cinzas do General” foi no Teatro 1, um espaço cênico que correspondia às variadas exigências da encenação dos anos 70, desde o tradicional palco italiano às múltiplas possibilidades do teatro de vanguarda.

A temporada foi curtíssima. Além de satirizar o governo militar a peça também defendia a descriminalização da maconha.

No dia 9 de dezembro de1980, às 15 horas, agentes da Polícia Federal invadiram o teatro. Julio Zanotta foi processado judicialmente e a versão em quadrinhos da peça, desenhada por Jaca, então ilustrador do jornal Folha da Tarde, foi apreendida. Outros episódios graves já haviam ocorrido.

Agitadores provocaram tumultos, o teatro foi arrombado durante a madrugada e seu escritório vistoriado. A breve carreira da peça havia terminado. “As Cinzas do General” é uma sátira erótica e erética do militarismo .A música, sob a direção do uruguaio Ricardo Pereyra, era importantíssima, provocava efeitos incríveis, às vezes sombrios, às vezes alegres. O cenário de Nelson Magalhães desdobrava-se em torno de uma gigantesca vagina, por onde entravam e saíam os atores.

FICHA TÉCNICA:
Elenco: Lisaura Andrea Souto, Márcia Érig, Évora Sarmento, Ramiz Miralha e Paulo de Tarso
Músicos: José Edílio (flauta transversa e percussão), Waltes Shinke (contrabaixo acústico) e Ricardo Pereyra (violoncelo)
Direção musical: Ricardo Pereyra
Direção: Julio Zanotta

DATA DE ESTREIA:
08 de novembro de 1980 no Teatro 1 em Porto Alegre/RS

Temporada: de quintas a domingos, às 21 hs, no Teatro l. Interrompida pela repressão.

LEIA O QUADRINHO "AS CINZAS DO GENERAL"

NA IMPRENSA

''As Cinzas do General'' conta o que sobrou desses anos todos

Essa peça, inicialmente, teve uma carreira extremamente acidentada. Nós praticamente estamos ensaiando desde março. Ensaiamos em três etapas, com três elencos e com três peças diferentes.

Folha da Tarde

09 de novembro de 1980
Por Redação Folha da Tarde
Em seu quarto texto Julio Zanotta discute o futuro da nacionalidade

Por isso mesmo creio que não tratei de relacionar tanto as coisas que escrevi, e nesta peça, mais distante da sociologia, misturo mais os elementos objetivos e subjetivos do espetáculo., o que me levou a dizer que o enredo é mesmo uma enredação.

Correio do Povo

27 de novembro de 1980
Por Redação Correio o Povo
‘’Cinzas do General’’ autor depõe hoje

A publicação que era vendida pelo elenco nas horas livres com o objetivo de proporcionar uma receita maior para o grupo, e também para o Teatro 1, uma das poucas casas de espetáculo que não conta com verbas públicas para sua manutenção - foi apreendida terça-feira na gráfica CEUE

Zero Hora

11 de dezembro de 1980
Por Redação Zero Hora
Polícia Federal apreendeu obra por indução ao tóxico

Os trechos publicados nos quadrinhos do Caderno Margem-2,o que, segundo a Polícia Federal, referia-se ao incentivo ao uso de drogas, não foram liberados pela censura para serem apresentados na peça teatral.

Zero Hora

12 de dezembro de 1980
Por Redação Zero Hora

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