Obras de Ficção

Louco (Livro)

LOUCO

‘‘TEXTO E TRAÇO MERGULHADOS LOUCURA’’
Julio Zanotta povoava a sala de loucos. Ficava conversando com eles. Anotava frases. Era um sítio, longe de tudo, próximo de Viamão. A sala, ele lembra, era ampla e lúgubre. Zanotta colocava os loucos em cima da mesa, uma folha de papel na frente de cada um, e eles escreviam.

Foi Pena Cabreira (…) quem apresentou os loucos pra Zanotta. Artista plástico e publicitário, Pena tinha mais de 70 loucos desenhados em traços rápidos e fortes, a bico de pena. “Conheci pessoas que foram internadas e comecei a me interessar pelo assunto, a ler livros de psiquiatria”, recorda Pena. O desenhista selecionou 20 trabalhos para uma mostra no Hospital de Clínicas, há cerca de dois meses. Zanotta contribuiu com frases para a mostra, frases que ele agora desenvolveu em textos. Este colóquio da insanidade está registrado em Louco. (…)

Sofisticada peça de arte gráfica, Louco é o primeiro trabalho editado pela Ao Pé da Letra, a livraria de Zanotta (…). “Sempre gostei de livros com formato diferenciado”, diz Zanotta. Capa em formato 25cm X 30cm, encadernado com uma corda sintética vermelha, planejamento gráfico (assinado por Marco Cena) arrojado, agressivo, contrastando o preto e o vermelho na capa e nas páginas de abertura: Louco é certamente um livro diferenciado. Está saindo em tiragem inicial de mil exemplares. A obra também está sendo anunciada em outdoors em Porto Alegre.

A edição ficou a cargo do crítico e escritor Paulo Bentancur, que avisa no início do livro: “Aqui neste confronto da palavra com a imagem a loucura grita seu cárcere. Aconselho o leitor a fugir.” Para cada um dos 20 desenhos de Pena Cabreira, Zanotta criou um personagem. “Eles têm personalidades patológicas, que eu busquei no fundo das minhas próprias patologias”, explica o escritor. “Foi um mergulho no lado obscuro”. Zanotta lembra que o próprio ambiente em que escrevia favoreceu esse “mergulho” __ na época ele morava num sítio isolado, e a sala onde trabalhava era escura e silenciosa. Começou escrevendo com um processo semelhante à velha “escrita automática” dos surrealistas: espalhou os desenhos em uma mesa e deixou uma pilha de papel na frente de cada um. Depois, ia escrevendo de pé, uma frase para cada desenho cumprindo várias vezes o circuito em torno de todos os 20.

O resultado é um texto fragmentado, cru, visceral, muitas vezes escatológico (“Não quero mais fazer imundícia no corredor. Porque eu faço? Porque são atributos dos intestinos que emergem como serpentes”). Em perfeito casamento com o desenho, mescla delírio e vocabulário técnico psiquiátrico, perversão sexual e sintaxe infantil. E não faz concessões à idealização da loucura: “Eu sei que psicoses artificiais grassam entre consumidores de sonhos místicos e visionários do fim do mundo”, critica um dos loucos que Zanotta ouviu em noites silenciosas nas imediações de Viamão.

Texto publicado no jornal Zero Hora em 31/10/1995 por: Jerônimo Teixeira (Escritor, crítico literário da revista Veja.)

FICHA TÉCNICA:
Texto: Julio Zanotta
Ilustrações: Pena Cabreira
Planejamento Gráfico: Marco Cena
Arte Final: Sérgio Barela
Editor: Paulo Betancur
Editora: Ao Pé da Letra
Lançamento : 31 de outubro de 1995
Páginas: 94
CDU: 869.0(81)-3
CDU: 869.0(81)-34

NA IMPRENSA

Texto e Traço Mergulhados na Loucura

Foi Lordsir Peninha quem apresentou os loucos para Zanotta. Artista plástico e publicitário, Peninha tinha mais de 70 loucos desenhados em traços rápidos e fortes, a bico de pena. "Conheci pessoas que foram internadas e comecei a me interessar pelo assunto, a ler livros de psiquiatria", recorda Peninha.

Zero Hora

31 de outubro de 1995
Por Jerônimo Teixeira
Louco

São mulheres insones: "Não durmo porque não posso. Tenho medo que me roubem a pele do hímen. "São homens assombrados: "Dentro do armário não! Ali estão as roupas do meu pai. Elas tem cheiro dele. Naftalina e adeus!"

Porto & Virtgula

08 de novembro de 1996
Por Airton Tomazzoni
Mergulho no Escuro

Foi espalhar os desenhos de Peninha em uma mesa, deixar uma pilha de papel em frente de cada ilustração para seu trabalho fluir com naturalidade. A técnica usada pelo contista era semelhante à velha escrita automática dos surrealistas.

Diário Catarinense

26 de novembro de 1999
Por Redação Diário Catarinense

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