Peças Encenadas

A Divina Proporção “A Felicidade Não Esperneia, Patati-Patatá”

A DIVINA PROPORÇÃO
A FELICIDADE NÃO
ESPERNEIA PATATI-PATATÁ

Foram as primeiras montagens do grupo “Oí Nóis Aqui Traveis”. Os dois textos breves estrearam à meia noite do dia 31 de março de 1978, data em que a ditadura militar comemorava seu aniversário. Houve tumulto na platéia, provocado por agentes dos órgãos de repressão infiltrados entre o público. O grupo pretendia buscar “um acontecimento teatral que negue a desumanização do indivíduo e denuncie a descaracterização consumista”. Claudio Heemann escreveu uma crítica intitulada “Propósitos Devastadores”, que consagrou o grupo Ói Nóis Aqui Traveis.

“A Divina Proporção” tem o problema habitacional como pano de fundo. Quatro personagens se movem grotescamente limitados num monte de lixo cercado por arame farpado. Desgastam-se em conflitos pueris e perdem toda a sensibilidade ao se submeterem à engrenagem abstrata e corrosiva que os condiciona. Os personagens são O Construtor, proprietário poderoso de um conjunto habitacional composto por centenas de minúsculos apartamentos e o Técnico da Arte de Construir, legislador a serviço do Estado, fiscal encarregado de zelas pela harmonia social. Os dois se confundem no lixo que enche o espaço cênico. Mais dois personagens aparecem, afoitos e vulgares. São o Funcionário e a Cabeleireira, que chegam ao subúrbio para adquirirem um dos novos apartamentos anunciados.

Em “A Felicidade Não Esperneia, Patati-Patatá” a medicina é mostrada como instituição desumana e a linguagem alegórica elimina qualquer possível afeto nas relações entre os personagens. Um paciente destroçado, formado por dois atores enrolados em ataduras cirúrgicas, é apresentado à instituição médica. Então surgem dois médicos, encapuzados e deformados fisicamente, para iniciar o ritual selvagem que salvará o paciente de uma enfermidade incurável. São auxiliados por duas enfermeiras siamesas, unidas pelas costas.

Uma tem cabeça de animal e a outra o corpo. Terminada a cirurgia, o paciente é capaz de falar, e articula palavras incongruentes pedindo uma máscara de oxigênio e uma incubadora artificial, ao mesmo tempo em que se automutila.

A montagem dos dois textos foi violentamente reprimida pela ditadura e o teatro foi fechado, após uma batalha por direitos civis que repercutiu na imprensa e até na Assembleia Legislativa do Estado.

FICHA TÉCNICA:
Elenco de “A Divina Proporção”:
Jucemar Gonçalves, Zé Paulo Nunes, Beatriz Tedeschi e Sílvia Veluza.

Elenco de “A Felicidade Não Esperneia, Patati-Patatá”:
Rafael Baião, Alfredo Guedes, Beatriz Tedeschi, Paulo Flores, Jucemar Gonçalvez e Zé Paulo Nunes.

Cenário, figurino e luz: criação coletiva. Sonoplastia: Clara Nunes e Nélson Magalhães. Produção: grupo “Ói Nóis Aqui Traveis” Direção: coletiva, coordenada por Paulo Flores

DATA DE ESTREIA:
31 de março de 1978 no Teatro Ói Nóis Aqui Traveis em Porto Alegre/RS

NA IMPRENSA

Dois textos para mostrar a desumanização na sociedade do consumo

Descontentes com o que vê sendo feito, em termos de teatro, o grupo Ói Nóis Aqui Traveiz, tenta encontrar uma saída com o objetivo de atrair novos e antigos públicos.

Zero Hora

31 março de 1978
Por Redação Zero Hora
Fechamento do Teatro Ói Noís Aqui Traveiz repercute na Assembléia

Schirmer começou afirmando que "quando ouço falar em cultura, tenho vontade de sacar a pistola".

Zero Hora

19 de maio de 1978
Por Redação Zero Hora
Mais uma tentativa de reabrir teatro

Mas se o alvará for negado outra vez, vamos impetrar mandado de segurança contra o Departamento, porque ou nos dão licença, ou reconhecemos o fechamento como de caráter político.

Zero Hora

17 de julho de 1978
Por ZH Variedades
Grupo "Ói nóis aqui traveiz" cumpre documentação exigida

Espera o grupo com o cumprimento de todas as normas exigidas, poder reabrir a sala, retomando a interrompida temporada daquele espetáculo, que em geral agradou também a crítica.

Correio do Povo

19 julho de 1978
Por Redação Correio do Povo

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